Este artigo explora a ascensão dos animes isekai, traçando suas raízes desde contos clássicos até o boom iniciado por Sword Art Online em 2012. Com foco nos últimos dois anos, apresenta estatísticas de produção que mostram o recorde de estreias em 2023 e a forte tendência em 2024, comparando o volume de isekai com outros gêneros. Analisa também os fatores culturais — como o apelo ao escapismo e à fantasia de poder — e econômicos — a cadeia lucrativa desde web novels até mercadorias e licenciamento internacional. Por fim, destaca obras-chave que exemplificam a diversidade e inovação dentro do gênero.
A Proliferação dos Animes Isekai: Motivos e Impacto
Introdução: O que é Isekai?
O termo isekai (異世界, literalmente “mundo diferente”) refere-se a um subgênero de ficção, presente em light novels, mangás, games e especialmente animes, em que personagens saem do seu mundo original e são transportados ou reencarnados em um outro mundo. Geralmente esse “outro mundo” é um universo de fantasia (às vezes um jogo de RPG virtual) com magia, monstros e sociedades medievais, onde o protagonista precisa se adaptar e sobreviver. Obras isekai costumam compartilhar tropos comuns – por exemplo, um protagonista poderoso (frequentemente alguém comum que ganha habilidades excepcionais no novo mundo) e elementos inspirados em mecânicas de jogos (como níveis, status e missões). Não raro, a jornada começa com uma morte ou evento inusitado – o famoso “truck-kun” (caminhão) virou até piada recorrente por atropelar protagonistas e mandá-los para outras dimensões.
Apesar de o conceito existir de forma dispersa há muito tempo, o termo “isekai” consolidou-se como gênero popular apenas na última década. Desde então, isekai tornou-se um dos gêneros mais populares do anime contemporâneo, a ponto de em 2024 a palavra isekai ter sido incluída no prestigiado dicionário Oxford English Dictionary – um sinal de sua difusão global. A seguir, vamos entender as origens do gênero, como ele evoluiu historicamente e por que há tantos animes isekai atualmente, analisando os aspectos culturais e econômicos por trás dessa proliferação.
Origens e Panorama Histórico do Gênero
Embora o boom seja recente, a ideia de fugir para “outro mundo” não é nova. Na literatura japonesa antiga, há o conto de Urashima Tarō, em que um pescador visita um reino submarino mágico e descobre que séculos se passaram ao voltar. Clássicos ocidentais também prefiguram o isekai, como Alice no País das Maravilhas (1865) e O Mágico de Oz (1900), onde protagonistas atravessam portais para realidades fantásticas – histórias que os japoneses chamariam mais tarde de “portal fantasy”.
No entanto, os primeiros isekai modernos no Japão só surgiram por volta do fim dos anos 1970 e começo dos 80. Podemos citar o romance Warrior from Another World (1979) de Haruka Takachiho, e os animes Superbook (1981) – curiosamente, uma animação cristã coproduzida pelo estúdio Tatsunoko – e Aura Battler Dunbine (1983) de Yoshiyuki Tomino. Em 1986, o filme Super Mario Bros.: Peach-hime Kyushutsu Daisakusen! colocou o mascote da Nintendo dentro de seu jogo, precursor do subgênero de personagens presos em mundos de videogame.
Durante os anos 1990, surgiram obras pioneiras que mais tarde seriam reconhecidas como isekai “antes de ser moda”. Por exemplo, o anime Mashin Hero Wataru (1988) e o clássico Fushigi Yûgi (mangá de 1992, anime de 1995) apresentam jovens transportados a mundos de fantasia. El-Hazard (1995) e The Vision of Escaflowne (1996) também levaram estudantes a reinos mágicos, enquanto InuYasha (mangá 1996, anime 2000) mesclou romance e aventura feudal com viagem interdimensional. Até mesmo séries infantis como Digimon Adventure (1999) se encaixam no gênero (crianças presas em um “digimundo”). E o filme vencedor do Oscar A Viagem de Chihiro (2001) – embora na época não chamado assim – é essencialmente um isekai, com a garota Chihiro atravessando para um mundo espiritual.
Apesar desses exemplos, não se falava em “gênero isekai” abertamente nos anos 90 e início dos 2000. A explosão veio na década de 2010. Muitos fãs apontam Sword Art Online (2012) como um marco: embora não tenha sido o primeiro, este anime (sobre jogadores presos em uma VRMMORPG mortal) popularizou imensamente a premissa “presa em outro mundo” e abriu caminho para a febre isekai. Em meados dos anos 2010, títulos como Log Horizon (2013), No Game No Life (2014), Re:Zero kara Hajimeru Isekai Seikatsu (2016) e KonoSuba (2016) conquistaram sucesso, solidificando o boom do isekai. A quantidade de novos animes do tipo cresceu tanto nesse período que houve até reação contrária: algumas editoras e concursos literários no Japão passaram a vetar histórias de isekai por considerarem o mercado saturado. Em 2016, por exemplo, um concurso de ficção baniu explicitamente tramas de “reencarnação em outro mundo”, e em 2017 a gigante Kadokawa fez o mesmo em seu prêmio de novas light novels. Mesmo assim, a maré já estava alta demais para ser contida.
O Boom Recente (2023-2024) e Volume de Produção
Nos últimos dois anos, o domínio do isekai no line-up de animes se tornou ainda mais evidente. Para se ter ideia, 2023 teve o maior número de estreias isekai da história, com cerca de 30 séries inéditas no gênero. Esse número impressiona quando comparado a anos anteriores – foi mais que o dobro do que se via anualmente no final da década de 2010. E a tendência não deu sinais claros de queda: em 2024, a contagem de novos isekai já apontava para igualar ou até superar 2023 (considerando os títulos anunciados naquele ano).
Essa proliferação fica clara ao examinarmos a evolução ao longo da última década. No gráfico abaixo, podemos observar o crescimento do número de animes isekai por ano desde 2011 até 2021, evidenciando o salto expressivo especialmente a partir de 2016:
Em 2011, mal se contavam nos dedos os lançamentos isekai; já em 2018, como mostra o gráfico, foram quase 15 títulos naquele ano. Esse aumento de quase 5 vezes em menos de 10 anos ilustra o quanto o gênero deixou de ser nicho para se tornar mainstream. Se estendêssemos o gráfico até 2023, o pico seria ainda mais alto – conforme citado, ~30 novos animes isekai naquele ano, um recorde histórico.
Para contextualizar, o volume total de animes produzidos por ano também cresceu na última década, mas não no mesmo ritmo estratosférico do isekai. Por exemplo, 2018 foi um ano recorde de produção de anime no geral (cerca de 500 obras no total, somando TV, filmes e OVAs). Ainda assim, o isekai compôs uma fatia notável desse bolo e continuou a ganhar espaço mesmo quando a produção total estabilizou ou caiu levemente após 2018. Em outras palavras, a proporção de isekai entre os animes aumentou. Onde antes tínhamos 1 ou 2 isekais em meio a dezenas de outros gêneros, hoje é comum cada nova temporada de anime trazer vários títulos de isekai. Essa onipresença levou alguns fãs a brincarem que “todo novo anime parece ser isekai”. Embora haja exagero nessa afirmação, os dados mostram que aproximadamente entre 10% a 15% dos animes recentes podem ser classificados como isekai – uma parcela significativa do mercado anual.
E como fica a comparação com outros gêneros? O contraste mais evidente é com os animes de mecha (robôs gigantes), que reinaram em décadas passadas. Enquanto a era de ouro dos mechas (anos 70-80) via dezenas de séries de robôs, atualmente essa categoria produz apenas poucos títulos por ano. Já o isekai segue a tendência oposta: é o gênero queridinho dos estúdios no momento. Esse desbalanceamento gerou críticas sobre falta de originalidade e diversidade, reforçando a percepção de “superlotação” de isekai no mercado. Ainda assim, a demanda do público por essas histórias continua alta, levando os estúdios a apostarem nelas temporada após temporada.
Por que gostamos tanto? – Escapismo e Cultura do Isekai
No aspecto cultural, grande parte do apelo do isekai pode ser atribuída ao escapismo. Em muitas tramas, acompanhamos protagonistas infelizes ou entediados em suas vidas comuns que ganham uma segunda chance em um mundo fantástico. Essa premissa ressoa com o público moderno: quem nunca desejou “escapar” da realidade do dia a dia e viver uma aventura em outro lugar? Segundo análises, os espectadores se identificam com o desejo dos heróis de fugir de vidas monótonas e começar de novo em outro mundo. Há um elemento de fantasia de poder aí – aquele salariado exausto, ou estudante tímido, de repente torna-se um mago prodigioso ou um guerreiro celebrado em sua nova vida. Essa transformação fornece uma catarse imediata: é recompensador ver alguém como nós “zerando” a vida e voltando no fácil, acumulando poderes e conquistas rapidamente. Como resumiu um comentarista, o prazer dessas histórias está nesse “alívio instantâneo” que elas proporcionam – em vez de lutar contra dificuldades reais, o protagonista (e por tabela o espectador) desfruta de um progresso acelerado, quase um atalho para a felicidade e auto-realização.
Entretanto, o gênero isekai não se sustenta só de power fantasy simplório; ele também reflete curiosidades e aspirações culturais. Muitos protagonistas usam o novo mundo para explorar talentos ou hobbies que não podiam exercer antes. Por exemplo, em Restaurant to Another World o herói abre um restaurante e introduz culinária moderna em um reino mágico; em Ascendance of a Bookworm, a protagonista (uma amante de livros) renasce em um lugar sem imprensa e decide disseminar o hábito da leitura. Esses casos mostram o isekai canalizando interesses cotidianos – cozinha, literatura, agricultura, etc. – e realizando-os de forma criativa em outro mundo. Há também variantes subversivas: isekai reverso, quando personagens do mundo de fantasia vêm parar no nosso (como em Isekai Ojisan, em que um tio retorna do coma contando suas aventuras em outro mundo); ou as histórias de “vilã reencarnada” (como My Next Life as a Villainess, 2020) em que a protagonista sabe que está dentro de um jogo de romance e tenta evitar seu destino de vilã. Essas variações indicam que, mesmo dentro do gênero, há espaço para inovação e autocrítica – os clichês podem ser usados de forma cômica ou original.
Outro ponto cultural interessante é como o isekai absorveu influências de jogos e RPGs japoneses. Termos como level up, habilidades especiais (cheat skills) e até telas de status aparecem frequentemente. Isso revela a sobreposição do público de animes, jogos e light novels, todos interagindo com essas convenções. O isekai moderno, em muitos casos, é um JRPG narrativo: um jogador (protagonista) em um mundo de fantasia que funciona por regras de game. Essa familiaridade torna as histórias fáceis de acompanhar para os fãs, mas também pode levar à repetição excessiva de fórmulas.
Resumindo, o fenômeno isekai reflete tendências sociais e de consumo: jovens e adultos buscando escapismo frente a vidas estressantes, a influência da cultura gamer, e o apelo de narrativas de renascimento e superação instantânea. Ao mesmo tempo, a popularidade massiva gerou saturação a ponto de cansar parte do público, evidenciada por críticas sobre “mais do mesmo”. Apesar disso, enquanto houver audiência querendo sonhar com “um outro mundo melhor”, o isekai continuará encontrando terreno fértil na imaginação coletiva.
Por que os Estúdios Investem Tanto? – Fatores Econômicos
Do ponto de vista econômico e industrial, há motivos claros pelos quais os estúdios e editoras estão apostando pesado em isekai. O mais direto é: “isso dá dinheiro”. Nas palavras bem-humoradas de um artigo da Anime News Network, “por que há tantos isekai? Simplesmente porque imprime dinheiro”. De fato, isekai vende. Vende assinaturas de streaming (é um dos gêneros mais assistidos internacionalmente), vende manga e light novel originais (muitos espectadores vão atrás das obras originais após ver o anime), e vende mercadorias como figuras de personagens, games spin-off, etc. Para produtoras, adaptar uma série isekai de sucesso é um investimento relativamente seguro – há uma base instalada de fãs e todo um hype em torno do gênero no momento.
Outro fator é a enorme oferta de material fonte disponível, graças à ascensão das plataformas de publicação online no Japão. O site Shōsetsuka ni Narō (“Vamos ser novelistas”) foi fundamental para impulsionar uma geração de autores amadores de isekai. Desde os anos 2010, houve uma enxurrada de web novels isekai gratuitas na internet, muitas das quais ganharam popularidade e foram licenciadas como light novels físicas. Esse movimento, chamado até de narō-kei (estilo Narō), criou um verdadeiro catálogo de histórias prontas para adaptação. Do ponto de vista dos estúdios, é um prato cheio: em vez de arriscar em roteiros totalmente originais, eles podem selecionar as web novels mais populares (que já provaram seu apelo junto ao público leitor) e transformá-las em anime. Assim, reduz-se o risco comercial.
As estatísticas corroboram essa prática. Uma análise mostrou que, de 34 animes isekai recentes examinados, 29 tinham origem em web novels (25 vindo do Narō, 2 do Kakuyomu e 2 do Alphapolis, principais plataformas online). Ou seja, cerca de 85% desses títulos nasceram na internet antes de migrarem para papel e depois para as telas. É literalmente a cadeia produtiva do isekai: web novel → light novel → anime → derivados (mangá, games). Cada etapa retroalimenta as vendas da anterior. Quando um anime isekai estreia, as vendas de suas novels e mangás costumam disparar, às vezes alcançando milhões de cópias em circulação. Um exemplo é Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation, cujo material original já ultrapassou 10 milhões de cópias após a adaptação em anime, consolidando a obra como uma franquia multimídia lucrativa (novels, mangá, jogo móvel em desenvolvimento, etc.).
Além das vendas diretas, animes isekai também atraem acordos de licenciamento internacionais. Plataformas de streaming como Crunchyroll, Netflix e Funimation frequentemente buscam esse tipo de conteúdo para distribuição global, dado o apelo universal da fantasia escapista. O resultado: dinheiro entrando não só do Japão, mas do mundo todo. Hoje a indústria de anime como um todo se beneficia do mercado externo – em 2023, a receita total do setor bateu recorde de ¥3,35 trilhões (cerca de R$120 bi), muito puxada pelo consumo internacional desde meados dos anos 2010. E gêneros populares como isekai têm grande contribuição nesse crescimento.
Resumindo, os estúdios investem em isekai porque é um negócio rentável e relativamente seguro. Há abundância de histórias para adaptar, um público fiel já estabelecido e múltiplas formas de monetização (streaming, vendas de novels/mangás, mercadorias, eventos). Enquanto essa fórmula continuar dando retorno, veremos produtores apostando no “outro mundo” com frequência. Como brincam alguns fãs, estamos presos no ciclo de reencarnação dos animes isekai – mas, ao contrário dos personagens, ninguém parece querer escapar dele tão cedo.
Destaques Recentes: Obras Populares e Inovadoras
Com tantos lançamentos todos os anos, o gênero isekai já conta com uma enorme variedade de títulos. Nos últimos anos (2020 em diante), alguns destaques populares ou inovadores merecem menção especial para os fãs que queiram explorar o melhor (ou mais diferente) que o isekai contemporâneo oferece:
- Mushoku Tensei: Jobless Reincarnation – Adaptação lançada em 2021 (com segunda temporada em 2023) baseada em uma das web novels isekai mais antigas e influentes. Traz a história de um homem recluso reencarnado em um mundo mágico como um jovem prodígio. Ganhou fama pela qualidade de animação excepcional e por tratar de forma mais séria o desenvolvimento do protagonista desde a infância, consolidando-se como um dos melhores isekai dos últimos tempos em recepção.
- Tensei shitara Slime Datta Ken (That Time I Got Reincarnated as a Slime) – Anime (2018–2021) em que o protagonista morre e reencarna como um slime (uma geleia) num mundo de fantasia. Ao contrário do clichê do herói humano, aqui ele é um monstro que vai acumulando poderes. Equilibra ação e humor, e seu sucesso rendeu 2 temporadas, OVAs e um filme, sendo um dos isekai mais adorados recentemente.
- Re:Zero kara Hajimeru Isekai Seikatsu – Embora tenha estreado em 2016, continuou relevante com uma segunda temporada em 2020. Conhecido por subverter expectativas: o herói Subaru descobre que tem o poder de “retroceder no tempo” toda vez que morre no outro mundo, o que traz um tom mais sombrio e psicológico ao gênero, com loops de morte traumáticos. Re:Zero foi um fenômeno de popularidade, com personagens como Emilia e Rem se tornando ícones entre fãs de anime.
- KonoSuba: God’s Blessing on This Wonderful World! – Outra série iniciada em 2016 (com filmes e novas temporadas planejadas) que permanece querida por sua abordagem cômica/paródica. KonoSuba tira sarro dos tropos de isekai: o protagonista é inútil e covarde, sua party é composta por figuras caricatas (uma deusa preguiçosa, uma maga explosiva obcecada por explosões, etc.) e as aventuras são hilárias. É o representante máximo da sátira dentro do gênero.
- Sword Art Online: Alicization & Progressive – SAO continua relevante. A saga Alicization (2018-2020) mergulhou de cabeça em um mundo virtual complexo, enquanto os filmes Progressive (2021-2022) revisitam o arco inicial sob outro ponto de vista. SAO, por ter sido porta de entrada para muitos no gênero, segue como um nome forte – amada por muitos, criticada por outros, mas inegavelmente influente.
- Otome Game no Hametsu Flag (My Next Life as a Villainess) – Lançado em 2020, inaugurou a popularidade da vertente “vilã num jogo otome”. Aqui, uma garota reencarna na antagonista de um jogo de romance, e usando seu conhecimento tenta evitar os finais ruins. O tom leve, foco em comédia romântica e a inversão de papel (a vilã vira heroína) trouxeram ares frescos ao isekai, atraindo também o público feminino.
- Isekai Ojisan (Uncle From Another World) – Anime de 2022 que representou algo diferente: em vez de mostrar a aventura no outro mundo, foca no pós-isekai. O “tio” do título acorda de um coma de 17 anos contando que viveu em um mundo de fantasia – e agora, de volta ao Japão, usa magia para tarefas triviais enquanto compartilha suas bizarras memórias. É uma série cheia de humor meta e nostalgia anos 90, uma proposta original em meio à multidão.
- So I’m a Spider, So What? (Kumo desu ga, nani ka?) – De 2021, semelhante ao Slime, apresenta a protagonista reencarnada como uma aranha monstruosa. Boa parte da história é a aranhinha narrando sua sobrevivência solo em um dungeon, o que rendeu comparações favoráveis a RPGs clássicos pela criatividade. Apesar de limitações de produção, tornou-se um exemplo de isekai inusitado.
- The Eminence in Shadow (Kage no Jitsuryokusha ni Naritakute!) – Anime de 2022 que mistura ação e paródia: um jovem obcecado em ser “herói nas sombras” morre e reencarna num mundo mágico, onde ele monta secretamente uma organização estilo chuunibyou para lutar contra um mal imaginário… que acaba sendo real. A série ganhou fãs pela premissa extravagante e sátira do arquétipo “edge lord”.
- Outros notáveis dos últimos dois anos incluem: Tsuki ga Michibiku Isekai Douchuu (aventura clássica), Mushoku Tensei 2ª temp. (já citada, continuação em 2023), The Rising of the Shield Hero (famoso isekai de 2019 que teve novas temporadas em 2022 e 2023), Farming Life In Another World (2023, focado em vida pacata no campo), Reborn as a Vending Machine (2023, premissa absurda onde o herói vira uma máquina de venda automática), Campfire Cooking in Another World (2023, isekai culinário) e Shangri-La Frontier (2023, embora seja sobre VRMMO e não outro mundo, é frequentemente associado ao gênero).
Cada fã de isekai certamente terá sua lista de favoritos, mas os citados acima ilustram a diversidade dentro do gênero – de épicos sérios a comédias escrachadas, de heróis overpower a heroínas em busca de um final feliz alternativo. Essa capacidade de se reinventar em diferentes sabores mantém o gênero vivo e atraente, mesmo com tantas obras no mercado.
Conclusão
A proliferação de animes isekai na última década não é por acaso. Ela resulta da conjunção de um público ávido por escapismo e fantasia de empoderamento, com uma indústria disposta a capitalizar em cima dessa demanda com fartura de conteúdo já testado e aprovado. O isekai reflete desejos e inquietações do seu tempo – a insatisfação com a rotina, a vontade de ter um “restart”, o fascínio por mundos de RPG – ao mesmo tempo que entrega entretenimento leve e muitas vezes reconfortante. Por outro lado, seu domínio no cenário midiático levanta questões sobre criatividade e saturação, fazendo surgir paródias e experimentações dentro do próprio gênero.
Seja você um fã que vibra com cada nova aventura em outro mundo, ou alguém já cansado de tropeçar em títulos “reencarnando no reino X” a cada temporada, é inegável que o isekai deixou uma marca profunda no anime recente. E enquanto essa fórmula continuar falando aos anseios da audiência e gerando sucesso comercial (ou melhor, imprimindo dinheiro mesmo), podemos esperar que novos mundos continuem se abrindo – nos animes, light novels e mangás – convidando-nos a escapar por alguns instantes da realidade e embarcar nessas jornadas fantásticas. Afinal, quem nunca sonhou com um portal mágico se abrindo e a chance de viver uma aventura digna de um outro mundo?